Bodhichitta
Uma sabedoria milenar
que hoje modernizada nos trás ensinamentos
maravilhosos e que nos guia em um caminho de pura
luz e ascensão.
Devemos manter a renúncia – o desejo sincero de alcançar a libertação permanente – dia e noite. É a porta para a libertação – a suprema permanente paz de espírito – e a base de mais avançadas realizações. Contudo, não nos devemos contentar com a busca apenas da nossa própria libertação; temos também de considerar o bem-estar dos outros seres vivos. Há incontáveis seres que se afogam no oceano do samsara experimentando o sofrimento insuportável. Considerando que cada um de nós é apenas uma única pessoa, os outros seres vivos são incontáveis em número; portanto, a felicidade e a liberdade dos outros são muito mais importantes do que as nossas. Por esta razão devemos entrar no Caminho do Bodhisattva, que nos leva ao estado de iluminação completa.
A porta através da qual entramos no Caminho de Bodhisattva é o Bodhichitta. “Bodhi” significa iluminação e “chitta” significa mente. Bodhichitta é a mente que espontanemente deseja atingir a iluminação para beneficiar cada um e todos os seres vivos directamente. O momento em que desenvolvemos esta preciosa mente de Bodhisattva – uma pessoa que espontaneamente deseja atingir a iluminação para o benefício de todos os seres vivos – e tornamo-nos um filho ou uma filha dos Budas Conquistadores.
Este supremo bom coração do bodhichitta não pode ser desenvolvido sem treino. Je Tsongkhapa disse:
“Através de regar a terra do amor carinhoso com o amor apreciativo,
E, em seguida, semear as sementes do amor e compaixão que desejam,
A árvore medicinal do bodhichitta crescerá.”
Isto implica que existem cinco estágios de formação em bodhichitta:
1- Treino em amor afectuoso
2- Treino em amor apreciativo
3- Treino em grande amor
4- Treino na compaixão universal
5- Treino no actual bodhichitta
1 - Treino em Amor Afectuoso
Neste treino aprendemos a desenvolver e a manter um coração quente e um sentimento de estar perto de todos os seres vivos sem excepção. Este amor afectuoso torna a nossa mente pura e equilibrada, e prepara a fundação para gerar amor apreciativo por todos os seres vivos. Normalmente a nossa mente está desiquilibrada; sentimo-nos demasiado perto de alguém com afecto ou muito distante de outros com raiva. É impossível desenvolver um supremo bom coração de bodhichitta com uma mente tão desiquilibrada. Esta mente desiquilibrada é a fonte de todos os nosso problemas diários. Podemos pensar que algumas pessoas são nossas inimigas porque nos estão a magoar, então como podemos desenvolver e manter um coração caloroso e sensação de estar perto de tais pessoas? Esta forma de pensar é incorrecta. As pessoas que nós acreditamos serem nossos inimigos são na realidade nossas mães de vidas passadas. As nossas mães de vidas passadas e a nossa mãe desta vida presente são todas nossas mães e são igualmente gentis conosco. É incorreccto pensar que as nossas mães de vidas anteriores não são mais nossas mães só porque passou muito tempo desde que realmente tomavam conta de nós. Se a nossa presente mãe morresse hoje, será que ela deixaria de ser a nossa mãe? Não, nós continuavamos a considerá-la nossa mãe e a rezar pela sua felicidade? O mesmo é verdadeiro para todas as nossas mães anteriores – elas morreram, contudo continuam nossas mães. É só por causa das mudanças na nossa aparência externa, que não nos reconhecemos uns aos outros.
Na nossa vida diária, vemos tantos seres vivos diferentes, humanos e não humanos.
Consideramos alguns como amigos, alguns como inimigos, e a maioria como estranhos. Estas distinções são feitas pelas nossas mentes enganadas; não são verificadas por mentes válidas. Em vez de seguir estas mentes enganadas, devemos reconhecer e acreditar que todos os seres vivos são nossas mães. Qualquer pessoa que encontremos, devemos pensar “Esta pessoa é minha mãe.” Desta forma, devemos gerar um coração caloroso igualmente chegado para todos os seres vivos. É sábia a nossa crença que todos os seres vivos são nossas mães por se entender que se deve experimentar um grande significado na vida e nas incontáveis vidas futuras. Nunca devemos bandonar essa crença benéfica ou visão.
Devemos contemplar o seguinte:
“Uma vez que é impossível encontrar um início à minha mente contínua, é natural que que eu tenho tido inúmeros renascimentos,então, devo ter tido inúmeras mães. Onde estão todas essas mães agora? Elas são todos os seres vivos que estão vivos hoje.”
Tendo repetidamente contemplado este ponto acreditamos fortemente que todos os seres vivos são nossas mães, e meditamos nesta crença.
A Bondade dos Seres Vivos
Ao estarmos convencidos que todos os seres vivos são nossas mães, contemplamos a imensa bondade que recebemos de cada uma delas quando foram nossas mães, assim como a bondade que nos mostraram noutras alturas.
Devemos pensar que a nossa mãe poderia não nos querer manter no seu ventre, ela poderia ter feito um aborto. Se ela tivesse feito isso, agora não teríamos esta vida humana. Através da sua bondade permitiu que ficassemos no seu ventre, então, agora desfrutamos de uma vida humana e experienciamos todas essas vantagens. Quando eramos um bébé, se não tivéssemos recebido o seu constante cuidado e atenção certamente teríamos tido um acidente e poderíamos estar agora incapacitados ou cegos. Felizmente, a nossa mãe não nos negligenciou. Dia e noite, deu-nos o seu carinho, tornando-nos mais importante que ela própria. A cada dia ela salvou a nossa vida diversas vezes. Durante a noite permitia que o seu sono fosse interrompido, e durante o dia omitia os seus habituais prazeres. Teve de deixar o seu emprego, e quando os seus amigos saiam para se divertirem ela tinha de ficar para trás. Ela gastou todo o seu dinheiro connosco, ao dar-nos a melhor comida e as melhores roupas que ela podia. Ensinou-nos como comer, como andar, como falar. A pensar no nosso bem-estar futuro, fez o seu melhor para assegurar que recebíamos uma boa educação. Devido à sua bondade, agora estamos habilitados a estudar o que escolhermos. É principalmente pela bondade da nossa mãe que nós agora temos a oportunidade de praticar Dharma e eventualmente atingir a iluminação.
Uma vez que não há ninguém que não tenha sido nossa mãe em algum momento de nossas preciosas vidas, e desde quando éramos seus filhos trataram-nos com a mesma bondade como a nossa presente mãe nos tratou nesta vida, todos os seres vivos são muito gentis.
A bondade dos seres vivos não se limita ao momento em que terão sido nossas mães. A todo o momento, as necessidades do nosso dia a dia são providas devido à bondade de outros. Não trouxemos nada connosco da nossa vida passada, contudo, mal nascemos, foi-nos dado uma casa, comida, roupas e tudo o que precisávamos – tudo providenciado através da bondade dos outros. Tudo o que agora disfrutamos foi fornecido através da bondade dos outros seres, passados ou presentes.
Somos capazes de fazer uso de muitas coisas com muito pouco esforço da nossa parte. Se considerarmos instalações e equipamentos, tais como estradas, carros, comboios, aviões, barcos, casas, restaurantes, hóteis, bibliotecas, hospitais, lojas, dinheiro e assim por diante, é claro que muitas pessoas trabalharam muito para providenciar estas coisas. Mesmo assim nós fazemos pouco ou nenhuma contribuição para a prestação deste serviços e eles estão todos disponíveis para nós usarmos. Isto mostra a grande bondade dos outros.
Tanto a nossa formação geral como a nossa formação espiritual são fornecidas por terceiros. Todas as nossas realizações de Dharma, desde as nossas primeiras percepções até à nossa eventual realização de libertação e iluminação, serão alcançadas na dependência da bondade dos outros. Como seres humanos geralmente temos a oportunidade de atingir a suprema felicidade da iluminação. Isto é porque tivemos a oportunidade de entrar e seguir o caminho da iluminação, um caminho espiritual motivado pela compaixão por todos os seres vivos. A porta através da qual entramos no caminho da iluminação é, portanto, a compaixão por todos os seres vivos – compaixão universal – e desenvolvemos esta compaixão apenas por confiar em todos os seres vivos como os objectos da nossa compaixão. Isto mostra que é através da grande bondade de todos os seres vivos actuando como objectos da nossa compaixão que temos a oportunidade de entrar no caminho da iluminação e atingir a suprema felicidade da iluminação. É, portanto, claro, que para nós todos os seres vivos são extremamente gentis e preciosos.
Das profundezas do nosso coração devemos pensar:
“Cada e todos os seres vivos são supremamente bondosos e preciosos para mim. Eles dão-me a oportunidade de tingir a pura e eterna felicidade da iluminação – o objectivo final da vida humana.”
Compreender e pensar desta maneira, geramos um coração quente e um sentimento de ser igualmente chegado a todos os seres vivos sem excepção. Tranformamos a nossa mente neste sentimento, e permanecemos nesse ponto único durante o maior tempo possível. Através de continuamente contemplar e meditar desta forma devemos manter um coração quente e um sentimento de estar perto de cada e de todos os seres vivos a todo o tempo, em qualquer situação. Tendo compreendido os oito benefícios de manter um amor afectuoso que é listado abaixo na secção “O grande Amor”, devemos aplicar um esforço contínuo nesta prática.
2 - Treino em Amor Apreciativo
Este treino tem dois estágios:
1- Igualar o Eu e outros
2- Trocar o eu por os outros
Igualar o Eu e Outros
Esta prática é chamada de “Igualar o Eu e Outros” porque estamos a aprender a acreditar que a nossa própria felicidade e liberdade e de todos os outros seres vivos é igualmente importante. Aprender apreciar e valorizar os outros é a melhor solução para os nossos problemas diários, e é a fonte de toda a nossa felicidade futura e boa sorte.
Existe dois níveis de apreciar/valorizar os outros:
1- Apreciar/valorizar os outros como apreciamos/valorizamos um amigo chegado ou um parente;
2- Apreciar/valorizar os outros como nos apreciamos/valorizamos a nós próprios.
O segundo nível é mais profundo. Através de apreciar e valorizar todos os seres vivos como nos apreciamos e valorizamos devemos desenvolver a profunda e universal compaixão que funciona como um caminho rápido para a iluminação. Este é um dos pontos essenciais do Kadam Lamrim.
Para treinar na equalização do eu e outros envolvemo-nos na seguinte contemplação, pensando:
“Eu tenho de acreditar que a minha felicidade e liberdade e de todos os outros seres vivos são igualmente importantes porque:
1- Todos os seres vivos mostraram-me uma enorme bondade em todas as vidas, esta e as anteriores.
2- Apenas como um desejo de ser livre do sofrimento e da experiência única da felicidade, assim como de todos os outros seres. Neste respeito, eu não sou diferente de nenhum dos outros seres; somos todos iguais.
3- Eu sou apenas um, enquanto os outros são incontáveis, assim como posso estar só preocupado comigo enquanto negligêncio os outros? A minha felicidade e sofrimento é insignificante quando comparada com a felicidade e sofrimento dos outros incontáveis seres vivos.”
Tendo repetidamente contemplado este ponto, nós acreditamos fortemente que a felicidade e a liberdade tanto nossa como dos outros seres vivos são igualmente importantes. Nós então permanecemos focados nesta crença por tanto tempo quanto possível. Devemos continuar a praticar esta contemplação e meditação até que espontaneamente acreditamos que a felicidade e a liberdade tanto nossa como de todos os seres vivos é igualmente importante, que é a realização da igualdade do eu e dos outros.
Trocar o Eu pelos Outros
Este treino tem três estágios:
1- Contemplar as desvantagens do auto-apreço;
2- Contemplar as vantagens de apreciar os outros;
3- O treino actual de trocar o eu pelos outros.
Contemplar as desvantagens do auto-apreço
O que é exactamente o auto-apreço? Auto-apreço é a nossa mente a pensar “Eu sou importante” enquanto negligencia os outros. Quando pensamos “Eu” e Meu” percebemos um “eu” inerentemente existente, e nós apreciámo-lo e acreditamos que a sua felicidade e liberdade são as mais importantes. Isto é o auto-apreço e auto-valorização. Cuidar de nós mesmos não é auto-apreço. Nós precisamos de cuidar de nós mesmos para mantermos esta vida humana para que possamos continuamente aplicar esforços para completar o seu sentido real.
Auto-apreço e apego são diferentes aspectos de uma mente. O Apego agarra-se a um eu inerentemente existente, e auto-apreço acredita que um tal eu é precioso e que a sua felicidade e liberdade é supremamente importante. Auto-apreço é a nossa visão normal que acredita “Eu sou importante” e “A minha felicidade e liberdade são importantes”, e negligência a felicidade e a liberdade dos outros. É parte da nossa ignorância porque na realidade não existe um eu inerentemente existente. A nossa mente de auto-apreço, no entanto, estima que seja o mais importante. É uma mente tola e enganosa que está sempre a interferir com a nossa paz interior, e é um grande obstáculo para a nossa realização do verdadeiro significado da nossa vida humana. Tivemos esta mente de auto-apego vida após a vida desde tempo remotos, mesmo durante o sono e o sonho.
No “Guia para o caminho de vida de um Bodhisattva” Shantideva diz:
“… todo o sofrimento que existe neste mundo surge apartir de desejarmos sermos felizes”
O sofrimento não nos foi dado como punição. Todo ele vem da nossa mente de auto-apreço, que deseja que nós mesmos sejamos felizes enquanto negligência a felicidade dos outros. Existem duas maneiras de entender isto. Primeiro, a mente de auto-apreço é a criadora de todo o sofrimento e problemas; e segundo, o auto-apreço é a base para experienciar todo o sofrimento e problemas.
Sofremos porque nas nossas vidas anteriores desempenhamos acções que levaram os outros a experimentar sofrimento, motivado por intensão egoísta – o nosso auto-apreço. Como resultado destas acções, agora experienciamos o nosso presente sofrimento e problemas. Contudo, o real criador de todo o nosso sofrimento e problemas é a nossa mente de auto-apreço.
A nossa experiência presente de sofrimento e problemas particulares tem uma especial conecção com as acções particulares que desempenhamos nas nossas vidas anteriores. Isto é muito subtil. Não conseguimos ver isto na nossa conexão oculta com os nossos olhos, mas como já expliquei podemos compreender isso através do uso da nossa sabedoria, e nomeadamente através de confiar nos ensimamentos de Buda sobre o karma. Em geral, todos sabem que se desempenharmos más acções vamos experienciar maus resultados e se desempenharmos boas acções vamos experienciar bons resultados.
A mente do auto-apreço é também a base para experienciarmos todo o nosso sofrimento e problemas. Por exemplo, quando as pessoas não são capazes de preencher os seus desejos, muitos experienciam depressão, desencorajamento, infelicidade e dor mental, e alguns ainda se querem matar. Isto é por causa do seu auto-apreço acreditar que os seus próprios desejos são muito importantes. É contudo o seu auto-apreço que é o principal reponsável pelos seus problemas. sem o auto-apreço, não haveria bases para experienciar tal sofrimento.
Quando estamos sériamente doentes achamos difícil de suportar o nosso sofrimento, mas doenças prevalentes prejudicam-nos apenas porque nos apreciamos a nós mesmos. Se uma outra pessoa está a experienciar uma doença prevalente similar, nós não temos problema. Porquê? Porque nós não o apreciamos a ele ou a ela. Contudo, se apreciarmos os outros como nos apreciamos a nós próprios, vamos achar muito dificil de suportar o seu sofrimento. Isto é compaixão. Como Shantideva diz:
“O sofrimento que experiêncio
Não prejudica os outros,
Mas acho que é difícil de suportar
Porque me aprecio a mim próprio.
Da mesma forma, o sofrimento dos outros
Não me prejudica,
Mas, se eu apreciar os outros,
Eu devo encontrar o seu sofrimento difícil de suportar.”
Na vida após vida, desde tempos remotos, tentamos preencher os desejos da nossa mente de auto-apreço, ao acreditar que a sua visão é verdadeira. Pomos um grande esforço na busca da felicidade nas fontes externas, mas não têm nada para nos mostrar agora, porque o auto-apreço decidiu que desperdiçamos inúmeras vidas anteriores, que nos tem levado a trabalhar para o nosso próprio propósito, mas nada ganhamos. Essa mente tola fez todas as nossas vidas anteriores vazias – quanto tomamos este renascimento humano não trouxemos nada connosco a não ser ilusões. Em cada momento de cada dia, esta mente de auto-apreço continua a enganar-nos.
Tendo completado este ponto, pensamos:
“Nada me prejudica mais do que o demónio do meu auto-apreço. É a fonte de toda a minha negatividade, desgraça, problemas e sofrimento. Portanto eu tenho de abandonar o meu auto-apreço.”
Devemos meditar nesta determinação todos os dias, e pôr a nossa determinação em prática.
Contemplar as Vantagens de Apreciar os Outros
Quando profundamente acreditamos que os outros são importantes, e que a sua felicidade e liberdade são importantes, estamos a apreciar e valorizar os outros. Se apreciarmos os outros desta forma, deveremos ter sempre bons relacionamentos e viver em harmonia com os outros, e a nossa vida diária será pacifica e feliz. Podemos começar esta prática com a nossa família, amigos e todos à nossa volta, e então gradualmente podemos desenvolver e manter o amor de apreço por todos os seres vivos sem excepção.
No “Guia para o modo de vida do Boghisattva”, shantideva diz:
“Toda a felicidade que existe no mundo
Surge do desejar que os outros sejam felizes”
Se pensarmos cuidadosamente nisto, iremos descobrir que toda a nossa presente e futura felicidade depende da nossa vontade de que os outros sejam felizes. Nas nossas vidas passadas, por termos apreciado os outros, praticamos acções virtuosas tais como abstermo-nos de matar ou magoar de roubar ou enganar os outros. Demos-lhes ajuda material e protecção, e praticamos a paciência. Como resultado destas acções virtuosas, agora temos esta preciosa vida humana com a oportunidade de experimentar prazeres humanos.
O efeito imediato de apreciarmos os outros será que muitos dos nossos problemas diários, tais como aqueles que resultam da raiva, inveja e comportamento egoísta, irão desaparecer, e a nossa mente ficará calma e pacífica. Uma vez que devemos agir de modo atencioso, vamos agradar os outros e não nos envolvermos em brigas ou disputas. Se apreciarmos os outros devemos considerar ajudar ao invés de prejudicá-los, então devemos naturalmente evitar acções não virtuosas. Em vez disso, devemos praticar acções virtuosas, tais como compaixão, amor, paciência, e dar ajuda material e protecção, e, assim criar a causa para alcançar a felicidade pure e eterna no futuro.
Em particular, se apreciarmos os outros seres vivos como nos apreciamos a nós próprios vamos encontrar o seu sofrimento difícil de suportar. O nosso sentimento de que é difícil de suportar o sofrimento dos outros seres vivos é a compaixão universal, e isto irá levar-nos rapidamente para a felicidade pura e eterna da iluminação. Tal como os Budas anteriores, devemos nascer da mãe como um Buda iluminado, compaixão universal. É por isso que acalentar todos os seres vivos nos permitirá atingir a iluminação muito rapidamente.
Contemplanto todos estes benefícios, pensamos:
“A mente preciosa que aprecia todos os seres vivos protege ambos, eu e os outros, do sofrimento, trazendo pura e eterna felicidade e preenche os desejos de ambos, meus e dos outros. Contudo eu devo sempre apreciar todos os seres vivos sem excepção.”
Esta mente preciosa que aprecia todos os seres vivos protege ambos, a mim e aos outros, do sofrimento, trás pura e eterna felicidade e preenche os desejos de ambos, de mim e dos outros. Contudo eu devo sempre apreciar todos os seres vivos sem excepção.”
Devemos meditar nesta determinação todos os dias, e fora da nossa meditação pôr a nossa determinação em prática. Isto quer dizer que nós devemos na realidade apreciar cada e todos os seres vivos, incluindo os animais.
O Treino Real de Trocar o Eu pelos Outros
Trocar o Eu pelos outros quer dizer que trocamos o objecto do nosso apreço por nós próprios por todos os outros seres vivos. Isto é impossível sem treino. Como treinamos em trocar o eu pelos outros? Com um entendimento da grande desvantagem de nos apreciarmos a nós próprios e a grande vantagem de apreciar todos os seres vivos, como explicado acima, e lembrando que fizemos a determinação de abandonar o nosso auto-apreço e sempre apreciar todos os seres vivos sem excepção, pensamos nas profundezas do nosso coração:
“Eu devo deixar de apreciar-me a mim próprio e em vez disso apreciar todos os outros seres vivos sem excepção.”
Nós então meditamos nesta determinação. Devemos praticar esta meditação continuamente até espontaneamente acreditarmos que a felicidade e liberdade de cada um e de todos os seres vivos são muito mais importantes do que as nossas próprias. Esta crença é a realização de trocar o eu por os outros.
3-Treino em Desejar Amor
Com a compreensão e a crença que a felicidade e a liberdade de cada e de todos os seres vivos é bem mais importante que a nossa própria, generamos desejar amor por todos os seres vivos, pensamos:
“Que maravilhoso que seria se todos os seres vivos atingissem a pura e eterna felicidade da iluminação! Que eles possam atingir esta felicidade. Eu mesmo vou trabalhar para este objectivo.”
Continuamos focados sobre essa preciosa mente de querer amor para todos os seres vivos durante o maior tempo possível. Repetimos esta meditação outra vez e outra vez até que espontaneamente desejemos que cada e todos os seres vivos possam experienciar a felicidade da iluminação. Este espontaneo desejo é a actual realização de desejar amor.
Desejar amor é também chamado de “amor imensurável” porque através de meditar sobre o grande amor devemos receber benefícios inestimáveis nesta vida e nas incontáveis vidas futuras. Baseado nos ensinamentos de Buda, o grande estudioso Nagarjuna elaborou oito benefícios do amor carinhoso:
1- Através de meditar no amor carinhoso e desejar amor por apenas um momento acumulamos mais valor do que nós obteríamos se dessemos comida três vezes ao dia a todos aqueles que têm fome no mundo.
Quando damos comida áqueles que têm fome não lhes estamos a dar uma felicidade real. E isto é porque a felicidade que vem de comer não é a felicidade real, mas apenas uma redução temporária no sofrimento de fome. Contudo, ao meditar no amor carinhoso e ao desejar amor vai levar-nos e a todos os seres vivos à pura e eterna felicidade da iluminação.
Os outros sete benefícios de meditar no amor carinhoso são de que no futuro:
2- Receberemos grande bondade dos seres humanos e não humanos;
3- Seremos protegidos de variadas maneiras por humanos e não humanos;
4- Deveremos estar sempre felizes o tempo todo;
5- Deveremos estar fisicamente saudáveis o tempo todo;
6- Não devemos ser prejudicados por armas, veneno e outras condições prejudiciais;
7- Deveremos obter todas as condições necessárias sem esforço;
8- Deveremos nascer no céu superior na terra de Buda.
Tendo completado estes benefícios deveremos aplicar esforços na meditação de desejar amor muitas vezes todos os dias.
4 - Treino Na Compaixão Universal
A compaixão universal é uma mente que sinceramente deseja libertar todos os seres vivos do sofrimento permanente. Se, na base de apreciar e valorizar todos os seres vivos, cotemplarmos o facto que eles experienciam o ciclo do sofrimento fisico e dor mental na vida após a vida sem fim, a sua incapacidade de se libertarem do sofrimento, a sua falta de liberdade e como, por se envolverem em acções negativas, criam as causas do sofrimento futuro, deveremos desenvolver uma profunda compaixão por eles. Temos de simpatizar com eles e sentir a sua dor tão subtilmente como sentimos a nossa própria.
Ninguém quer sofrer, mas ainda assim, pela ignorância dos seres vivos, criamos sofrimento ao realizar acções não virtuosas. Nós devemos, contudo, sentir igual compaixão por todos os seres vivos sem excepção; não existe um único ser vivo que não é objecto adequado da nossa compaixão.
Todos os seres vivos sofrem porque tomam renascimentos contaminados. Os seres humanos não têm hipótese a não ser experienciar imenso sofrimento humano porque tomaram renascimentos humanos, que estão contaminados pelo veneno interno da ilusão. Similarmente, os animais têm de experimentar sofrimento animal, e fantasmas famintos e seres do inferno têm de experienciar todo o sofrimento dos seus respectivos reinos. Se os seres vivos tivessem de experimentar todo este sofrimento por apenas uma simples vida, não seria tão mau, mas o ciclo do sofrimento continua vida após vida, sem fim.
Para desenvolver a renúncia, temos de anteriormente contemplar como nas nossas inúmeras vidas futuras teremos de experimentar os sofrimentos insuportáveis dos animais, fantasmas famintos, seres do inferno, humanos, semi-deuses e deuses. Agora, neste ponto, para desenvolver compaixão por todos os seres vivos que são nossas mães, contemplamos como nas suas incontáveis vidas futuras terão de experienciar o insuportável sofrimento dos animais, fantasmas famintos, seres do inferno, humanos, semi-deuses e deuses.
Tendo completado isto deveremos pensar:
“Eu não posso suportar o sofrimento desses incontáveis seres mãe. Afogados no vasto e profundo aceano do samsara, o ciclo do renascimento contaminado, têm de experienciar insuportável sofrimento fisico e dor mental nesta vida e incontáveis vidas futuras. Tenho de permanentemente libertar todos este seres vivos do seu sofrimento.”
Devemos meditar continuamente nesta determinação, que é a compaixão universal, e aplicar um grande esforço para cumprir o seu objectivo.
5 - Treino no actual Bodhichitta
No momento em que desenvolvemos o bodhisattva, somos uma pessoa que espontaneamente deseja atingir a iluminação para benefício de todos os seres vivos. Inicialmente deveremos ser um Bodhisattva no caminho da acumulação. Então, ao seguir o caminho da iluminação com o veículo de bodhichitta, podemos progredir para ser um Bodhisattva no caminho da acumulação para ser um Bodhisattva no caminho da preparação, um Bodhisattva no caminho de ver, e depois a Bodhisattva no caminho da meditação. De lá, devemos atingir o Caminho sem mais aprendizagem, que é o estado real da iluminação. Como já foi mencionado, a iluminação é a luz interna da sabedoria que é permanentemente livre de todos os aparentes erros, e cuja função é dar paz mental para todos e cada ser vivo todos os dias. Quando atingimos a iluminação de Buda seremos capazes de beneficiar todos e cada ser vivo directamente através de conceder bençãos e através das nossas incontáveis emanações.
Nos ensinamentos do sutra, Buda diz:
“Nesta vida impura do samsara
Ninguém experiencia a verdadeira felicidade;
As acções que realizamos
Serão sempre a causa do sofrimentos.”
A felicidade que normalmente experienciamos através de termos boa condições tais como boa reputação, boa posição, um bom emprego, bons relacionamentos, ter formas atraentes, ouvir boas notícias ou bonita música, comer, beber e sexo não são a verdadeira felicidade, mas mudar de sofrimento – uma redução no nosso sofrimento prévio. Da ignorância, contudo, acreditamos que só estas coisas trazem felicidade, a pura e eterna felicidade da libertação e iluminação. Estamos sempre à procura da felicidade nesta vida impura do samsara, como o ladrão que procura por ouro na caverna vazia de Milarepa e encontrou nada. O grande yogi Milarepa, uma noite, ouviu um ladrão a rondar a sua caverna e gritou-lhe, “Como esperas encontrar algo de valioso aqui à noite, quando eu não consigo encontrar nada valioso aqui durante o dia?”
Quando, através do treino, desenvolvemos a preciosa mente da iluminação, bodhichitta, espontaneamente pensamos:
“Como seria maravilhoso se eu e todos os seres vivos atingissemos a verdadeira felicidade, a pura e eterna felicidade da iluminação! Que possamos atingir esta felicidade. Eu próprio vou trabalhar por este objectivo.”
Devemos ter esta mente preciosa de bodhichitta no nosso coração. É o nosso guia espiritual, que nos leva directamente ao estado da suprema felicidade e iluminação; e isto é a jóia-dos-desejos reais através da qual podemos preencher os nossos próprios desejos e dos outros. Não há maior intenção benéfica do que esta preciosa mente.
Tendo contemplado a explicação acima, pensamos do fundo do nosso coração:
“Eu sou uma única pessoa mas os outros seres vivos são incontáveis, e são todos as minhas gentis mães. Estes incontáveis seres mãe têm de esperimentar um sofrimento físico insuportável e dor mental nesta vida e nas suas incontáveis vidas futuras. Comparado com o sofrimento deste incontáveis seres vivos, o meu próprio sofrimento é insignificante. Tenho de libertar todos os seres vivos do sofrimento permanente, e para este propósito devo atingir a iluminação de Buda.”
Temos de meditar nesta determinação, que é bodhichitta. Devemos praticar esta contemplação e meditação continuamente até desenvolvermos espontaneamente o desejo de atingir a iluminação para beneficiar cada e todos os seres vivos directamente, e então devemos aplicar grande esforço para cumprir o nosso desejo de bodhichitta.
Modern Buddhism
Geshe Kelsang Gyatso
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